Sobre este blog

Uma das muitas faces do prisma
Desde que me entendo por gente sou uma pessoa distraída. Fui o palhaço da classe, destemido perante o ridículo e o fracasso. Fui chamado de bobo, voador (avoado, aqui no Ceará), e outros nomes menos agradáveis.
Comecei a ter problemas na escola ainda no primeiro grau, no que era chamado de 6ª série, e agora é o sétimo ano da educação fundamental. Nunca repeti de ano, graças à espantosa tenacidade da minha mãe (outra DDA) que sempre levou estudo muito a sério (ela é escritora).
Tenho temperamento artístico. Gosto de escrever, cantar, contar anedotas. Ando num compasso muito próprio. Descobri há mais de 10 anos que tenho DDA e isso me abateu durante algum tempo, até que esqueci. Entrei cedo na universidade, com 17 anos incompletos, mas demorei 13 anos para sair de lá. Passei por várias universidades para determinar o que eu queria fazer. Procrastinar é uma palavra grande e chata que tenho que ouvir sempre de quem convive comigo, pois faço isso com freqüência. No trabalho, perco papéis e outras coisas importantes, não sempre, apenas quando elas são realmente necessárias.
Tenho 37 anos e consegui, a despeito de diversas mudanças de percurso, trabalhar com a mesma coisa há 17 anos. Sou psicólogo, e ajudo autistas a terem uma vida melhor. E acho que eles me ajudam igualmente.
Sou casado há 16 anos com a mesma mulher, que – apesar de ter muitas mais sinapses operacionais no lobo frontal que eu – também teve que lutar contra a distração a vida inteira.
Eu sei que graças aos caprichos de algum tradutor, o que era DDA virou TDA e o que era DDAH virou TDAH. Sei também que tenho H (que significa Hiperatividade). Mas acho DDA mais curto e mais simpático, de modo que vai ficar assim, no nome do blog, e em todas as postagens, salvo nas que usam critérios e instrumentos oficiais de diagnóstico.
Hoje pela manhã, pensei em escrever um livro sobre o assunto. Logo me ocorreu a idéia de que ele iria ficar encostado no ficheiro do Scrivener como tantos outros projetos extraordinários que tenho em mente.
Assim como, de acordo com Caetano, se você for brasileiro é melhor compor uma canção do que filosofar (que já ficou provado que só é possível em alemão, por isso esse povo tem tão pouco senso de humor), se você for DDA é melhor escrever um blog do que um livro, matutei eu antes de me lançar por aqui. E cá estou.
Este é um blogue autobiográfico. E não pretendo que ele seja só meu. Tem um bocado de gente bacana, metido com internet em diversos níveis, que, sabendo que sou psicólogo, ou porque não pôde se conter, deu com a língua nos dentes e falou que também era DDA. Quero convidar essa turma para compartilhar suas experiências aqui, e a gente tentar transformar nossas pequenas tragédias pessoais nessas piadinhas que se conta, e que inspiram outras pessoas que têm os mesmos problemas.
Pra mim é melhor que um livro, porque não tenho que esperar o longo processo de edição e publicação para vê-lo nas mãos das pessoas, e ter seu feedback.
Pra você é melhor do que um livro, porque você não precisa pagar por ele.
Talvez no fim termine mesmo sendo, se a idéia vingar e gerar combustível suficiente para acender meu hiperfoco.
Se você é DDA, deve ter ouvido, como eu, que não tem constância, que seu problema é falta de persistência, que se você se esforçasse mais, conseguiria... o que quer que a pessoa imagina que você devia fazer com seu talento.
Não sei quanto a você, mas se me faltasse persistência, eu teria desistido de ser psicólogo na primeira década.
Se você acha que tem algo de positivo nesse jeitão intuitivo de funcionar, se desconfia que existe uma certa ordem nesse caos que é a sua mente, seja bem-vindo (a). Se acha que tem uma doença terrível e pensa que seria melhor não ter problema nenhum e ser finalmente um chato como todo mundo queria que você fosse, vá pra Portugal de Navio: você vai estranhar as maluquices que vai ler aqui.

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Ah, e o negrito em ser DDA era pra enfatizar que ter DDA é muito artificial, que não dá pra separar o DDA da pessoa, que cura é despersonalização, e todo o discurso do movimento de valorização da diferença que também vai ter voz por aqui... Se não concorda, ponha a corda da normalidade no pescoço e pule num abismo de sensatez.